terça-feira, 19 de outubro de 2010

O PAGADOR DE PROMESSAS - DIAS GOMES

Zé do burro era um homem simples do interior da Bahia, conhecido por todos, principalmente pelo fato de existir entre ele e seu animal uma amizade muito profunda. Onde estivesse, também estaria o burro, em todos os afazeres diários e em todos os lugares que freqüentava.
Ao ter o seu animal ferido pela queda de um galho de árvore na cabeça, fez uma promessa. Se seu burro ficasse bom, daria parte de suas terras aos pobres e levaria uma cruz tão pesada quanto a de Cristo até o altar-mor de uma igreja de Santa Bárbara. Como em sua cidade não havia igreja da Santa, fez a promessa em um terreiro de cancomblé, onde ela é conhecida pelo nome de Iansan.
O animal ficou bom e seu dono, além de dividir parte de suas terras, caminhou quarenta e dois quilômetros carregando a cruz pesada nas costas, seguido por Rosa sua esposa, até chegar à igreja em Salvador.
Chegaram lá no dia da festa de Santa Bárbara por volta das quatro horas da madrugada, exaustos, famintos, pararam para descançar na escadaria da igreja ainda fechada. Muito aborrecida e enfadada Rosa passou a se lamentar. Enquanto isso, um gigolô que retornava do meretrício ficou muito interessado pela beleza daquela jovem mulher, conseguiu se aproximar do casal de peregrinos e convenceu Zé do Burro a permitir que sua esposa deixasse o local e fosse repousar em um hotel perto dali. Chegando lá, aproveitou-se do fato de Rosa estar desiludida com a vida ao lado do marido e bastante insatisfeita com os últimos acontecimentos, teve um envolvimento sexual com ela.
Ao amanhecer, quando o padre viu aquele homem com uma cruz na escadaria da igreja, e tomou conhecimento da promessa feita em um terreiro de candomblé para Iansan, Santa Bárbara, pela cura de um burro, recusou-se a receber Zé e sua cruz, acusando-o de heresia e culto ao demônio. O jovem padre não admitia o sincretismo religioso, resolveu fechar as portas e somente abrí-las quando aquele homem desistisse e fosse embora. Por sua vez, Zé do Burro decidiu que só sairia quando cumprisse sua promessa integralmente.
As pessoas que chegavam para a procissão eram atraídas por aquela cena e a notícia se espalhava entre o povo, até que um repórter foi ao local pra fazer uma matéria sensacionalista, distorcendo os fatos e transmitindo a notícia de acordo com as próprias tendências políticas, fazendo frente ao sistema do País mergulhado numa ditadura militar.
Enquanto isso, Bonitão, como era conhecido o gigolô, entrou em contato com a polícia e levantou suspeitas sobre Zé do Burro, em uma trama para prendê-lo e deixar o caminho livre, podendo assim agenciar Rosa na prostituição.
Mais tarde, depois da chegada do delegado e após muitos questionamentos sobre a dignidade da promessa e da proíbição de sua entrada na igreja, foi anunciada a detenção do pagador de promessa que, profundamente consternado, resistiu à prisão e foi morto pela polícia na presença de todos.



Encenada pela primeira vez a 29 de julho de 1960, no Teatro Brasileiro de Comédia (São Paulo), essa peça marca o início da segunda fase do teatro de Dias Gomes e sua consagração como um dos mais destacados dramaturgos contemporâneos do Brasil. Considerada por Anatol Rosenfeld como uma tragédia, no sentido clássico do termo, O Pagador de Promessas, segundo o próprio Dias Gomes, “é a história de um homem que não quis conceder - e foi destruído”.
Trata-se de um texto escrito para teatro, ou seja, para ser levado ao palco, ser encenado. A peça é dividida em três atos, sendo que os dois primeiros ainda são subdivididos em dois quadros cada um. Após a apresentação dos personagens, o primeiro ato mostra a chegada do protagonista Zé do Burro e sua mulher Rosa, vindos do interior, a uma igreja de Salvador e termina com a negativa do padre em permitir o cumprimento da promessa feita. O segundo ato traz o aparecimento de diversos novos personagens, todos envolvidos na questão do cumprimento ou não da promessa e vai até uma nova negativa do padre, o que ocasiona, desta vez, explosão colérica em Zé do Burro. O terceiro ato é onde as ações recrudescem, as incompreensões vão ao limite e se verifica o dramático desfecho.
Primeiro ato. Primeiro quadro.
A ação da peça tem início nas primeiras horas da manhã (4 e meia), numa praça, em frente a uma igreja, em Salvador. O personagem denominado Zé do Burro carrega uma cruz e se aloja na frente da igreja. A seu lado Rosa, sua mulher, apresentada como tendo "sangue quente" e insatisfação sexual. Zé espera a igreja abrir para cumprir sua promessa, feita a Santa Bárbara. Aparecem no lugar, algum tempo depois, Marli e Bonitão: ela prostituta; ele, gigolô. Há uma clara relação de exploração e dependência entre eles. Encontrando Zé, Bonitão dirige-se a ele e percebe ser alguém ingênuo. Rosa, por sua vez, conversando com o gigolô, queixa-se de Zé, contando que ele, na sua promessa, dividiu suas terras com lavradores pobres. Percebendo a ingenuidade, Bonitão propõe-se a providenciar um local para Rosa descansar. Zé não só aceita, como incentiva. Saem os dois, Bonitão e Rosa, de cena.
Segundo quadro.
Aos poucos, começa o movimento ao redor da praça. Aparecem a Beata, o sacristão e o Padre Olavo, titular da igreja. Zé explica a promessa: Nicolau foi ferido com a queda de uma árvore; estando para morrer, Zé fez a promessa. O burro - Nicolau é um burro! - salva-se. Ingenuamente, Zé revela ter usado as rezas de Preto Zeferino e feito a promessa num terreiro de candomblé, a Iansã, equivalente afro de Santa Bárbara. O padre fica escandalizado. Estabelece-se o conflito. O sincretismo Iansã - Santa Bárbara, natural para Zé do burro, é um grandioso pecado para o padre. A situação agrava-se com a revelação da divisão de terras. Impasse. O padre manda fechar a igreja e proíbe o cumprimento da promessa. Zé do burro fica atônico.
Segundo ato. Primeiro quadro.
Duas horas mais tarde, já a movimentação no lugar é intensa. O Galego, dono do bar, abriu seu estabelecimento. Surgem Minha Tia, vendedora de acarajés, carurus e outras comidas típicas, Dedé Cospe-Rima, poeta popular, ao estilo repentista e o Guarda. Zé do burro quer cumprir a promessa. O Guarda tenta intervir. Rosa reaparece com "ar culpado". Chega o Repórter. Seguindo a linha do oportunismo sensacionalista, o repórter quer tirar vantagens da história de Zé do Burro. Quer torná-lo um mártir, para virar notícia. Enquanto isso descobre-se que Rosa transou com Bonitão. Marli faz um pequeno escândalo, denunciando a história Rosa-Bonitão.
Segundo quadro.
Três da tarde, Dedé oferece poemas para Zé, a fim de derrotar o Padre. Aparecem, em momentos subseqüentes, o capoeirista Mestre Coca e o policial, o Secreta, chamado por Bonitão, ficando ambos, por enquanto, nas cercanias. Zé começa a perder a paciência e arma uma gritaria. O padre reage. Chega o Monsenhor, autoridade da igreja, propondo a Zé uma solução: ele, Monsenhor, na qualidade de representante da Igreja, pode liberar Zé da promessa, dando-a por cumprida. Zé não aceita, dizendo que promessa foi feita à Santa e só ela poderia liberá-lo. Segue o impasse. Zé explode novamente e avança com a cruz sobre a Igreja. O padre fecha a porta. Zé, já desesperado, bate com a cruz na porta. O drama é total.
Terceiro ato.
Entardecer. Muita gente na praça e nos arredores da Igreja. Há uma roda de capoeira. O Galego, oportunista, oferece comida grátis a Zé, pois a história está trazendo movimento ao seu bar. O Secreta, no bar, avisa que a polícia prenderá Zé, ameaçando os capoeiristas, caso eles interfiram. Marli volta. Ofende Rosa, ofende Zé. O protagonista parece mudar de atitude. Resolve ir embora "à noite". Rosa quer ir embora já. Conta que Bonitão avisou a polícia. Retorna o repórter, que tenta montar um verdadeiro circo em torno do Zé, com o objetivo de vender o jornal. Chega Bonitão e convida Rosa para ir com ele. Zé pede a ela para ficar. Rosa hesita, a princípio, mas, em seguida, vai com Bonitão. Mestre Coca avisa Zé sobre a chegada da polícia. Zé está perplexo: "Santa Bárbara me abandonou". Da igreja saem o Sacristão, o Guarda, o Padre e o Delegado. Tensão da cena acentua-se. Zé ainda tenta, ingênua e inutilmente, explicar alguma coisa. Ao ser cercado, puxa uma faca. As autoridades reagem. Os capoeiristas também. Briga e confusão. De repente, um tiro espalha gente para todos os lados. Zé é mortalmente ferido. Mestre Coca olha para os companheiros, que entendem a mensagem. Os capoeiristas tomam o corpo do Zé colocam-no sobre a cruz e, ignorando padre e polícia entram na igreja, carregando a cruz.


A peça de Dias Gomes tem nítidos propósitos de evidenciar certas questões socio-culturais da vida brasileira, em detrimento do aprofundamento psicológico de seus personagens. Assim, ganha força no drama a visão crítica quanto:
a) à intolerância da Igreja católica, personificada no autoritarismo do Padre Olavo, e na insensibilidade do Monsenhor convocado a resolver o problema;
b) à incapacidade das autoridades que representam o Estado - no episódio, a polícia - de lidar com questões multiculturais, transformando um caso de diferença cultural em um caso policial;
c) à voracidade inescrupulosa da imprensa, simbolizada no Repórter, um perfeito mau-caráter, completamente desinteressado no drama do protagonista, mas muito interessado na repercussão que a história pode ter;
d) ao grande fosso que separa, ainda, o Brasil urbano do Brasil rural: Zé do Burro não consegue compreender por que lhe tentam impedir de cumprir sua promessa; os padres, a polícia, a imprensa não conseguem compreender quem é Zé do Burro, sua origem ingênua, com outros códigos culturais, outras posturas. Além disso, a peça mostra as variadas facetas populares: o gigolô esperto, a vendedora de quitutes, o poeta improvisador, os capoeiristas. O final simbólico aponta em duas direções. Em primeiro lugar a morte do Zé do Burro mostra-se com fim inevitável para o choque cultural violento que se opera na peça: ninguém, entre as autoridades da cidade grande, é capaz de assimilar o sincretismo religioso tão característico de grandes camadas sociais no Brasil, especialmente no interior nordestino. Em segundo lugar, a entrada dos capoeiristas na igreja, carregando a cruz com o corpo, sinaliza para rechaçar a inutilidade daquela morte: os populares compreenderam o gesto de Zé do Burro.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

ERRO ORTOGRÁFICO NA LISTAGEM DO TSE??!!!!!!! ENCONTRE

ENCONTRE O ERRO ORTOGRÁFICO

Nas ruas da cidade

Isso aí moçada, agora vou colocar umas fotos do que eu tiro pelas minhas andanças.

sábado, 2 de outubro de 2010

MAIS DE 2000 VISITAS E NENHUM COMENTÁRIO!

Porra!!!!!!!!!!!!!!!!
Um monte de visita e quando eu entro no blog não tem nenhum comentário, nenhuma pergunta, ninguém me xinga, não perguntam do Miguelito, se eu sei costura e fazer trico.......